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Archive for julho \30\America/Bahia 2011

O texto abaixo não é meu, é do Fernando Silva mas tive que colocá-lo aqui. Guardadas algumas palavras aqui, outras ali, reflete muito a minha opinião.

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(…) Reuni na lista abaixo as afirmações mais comuns e as respostas adequadas. Em alguns casos, indiquei links para textos mais completos sobre o assunto.

1. Vejam como o universo é perfeito e organizado, vejam o sorriso das crianças, a beleza das flores.

O universo é um lugar caótico, com estrelas se apagando, explodindo ou se chocando, buracos negros engolindo estrelas e planetas, meteoros e cometas colidindo com planetas. A Terra é um lugar instável, sujeito a vulcões, terremotos, inundações, secas, furacões, incêndios, raios etc. A vida sobrevive devorando a vida num festival de garras, dentes, bicos afiados, ferrões, venenos, teias e putrefação.

A linda borboleta que vemos agora pode ser devorada por um pássaro em seguida, e esse pássaro devorado por outro animal, mais tarde.

Estamos sujeitos a doenças, pestes e defeitos de nascença. Nosso corpo é cheio de falhas e se deteriora com o tempo.

E fica a pergunta: que deus de infinito amor criaria um vírus que se instala no nervo ótico e causa a cegueira das pessoas? Ou insetos cujas larvas crescem dentro de animais vivos, devorando-os aos poucos até matá-los?

Leia também: O ser humano, ápice da criação divina?

2. A explosão de uma gráfica nunca produzirá um livro.

As chances de que um livro surja da explosão de uma gráfica são mínimas, já que as propriedades da matéria não levam a isto, mas há grandes chances de que levem a um universo como o nosso.

Se jogarmos um monte de objetos para cima, qual a chance de todos caírem? Muito grande, já que a força da gravidade leva a isto. Estranho seria se flutuassem ou saíssem voando em todas as direções.

O universo é assim porque há várias propriedades da matéria que o levam a ser assim.

E por que ele é assim? Não sei. Ponto final. Não vou inventar um deus para preencher as lacunas no meu conhecimento, muito menos definir como é este deus e quais são seus mandamentos e punições.

Os crentes também dizem que seria muito difícil surgirem seres vivos com tantos genes, organizados desta forma. O problema com a estatística aplicada ao surgimento da vida é que os crentes calculam como se fossem várias tentativas sucessivas até dar certo de repente, já com este grau de complexidade.

Na verdade, a coisa funciona mais como o jogo da forca: a cada letra que se acerta, há menos lacunas para se preencher. Os acertos são mantidos, facilitando os próximos acertos, que vão sendo adicionados um a um.

Não é como se, diante de 8 espaços a preencher, a gente tivesse que ficar imaginando palavras completas de 8 letras até acertar. E só tivesse, digamos, 5 chances.

Houve muitas chances e muitas tentativas simultâneas em muitos lugares, durante muito tempo, um tempo tão grande que foge à nossa compreensão. Não é como se, em algum lugar do planeta, uma única pessoa tivesse tentado uma coisa de cada vez, durante algum tempo.

Leia também: TalkOrigins

3. As chances de que o universo fosse assim por acaso são mínimas.

Podem ser mínimas, mas o fato é que o universo existe e é deste jeito. Quais as chances de que um determinado número seja sorteado na loteria? Mínimas, mas sempre sai um número.

A possibilidade de uma determinada sequência de números ser sorteada na loteria é ínfima, mas não é zero, portanto é possível. É a mesma possibilidade que tinha o número que foi sorteado.

4. A Terra está exatamente à distância do Sol que deveria para que existisse vida. Da mesma forma, tem a atmosfera e o tamanho certo, etc.

Isto se chama antropocentrismo e é a crença arrogante de que o universo existe para que o homem possa viver nele, quando na verdade o homem existe como consequência, não como razão de ser do universo. Existimos e somos assim porque o universo é assim. Não existiríamos ou seríamos diferentes se o universo fosse diferente. Somos frutos do acaso e, se quisermos um propósito para nossa existência, temos que inventá-lo nós mesmos.

5. Hitler, Mao, Lenin e Stalin eram ateus.

Hitler era cristão e nunca disse o contrário. Tinha sua própria interpretação da doutrina e considerava que os arianos eram o povo escolhido de Deus. Entrou em conflito com a Igreja Católica, que se opunha a alguns de seus atos, mas teve o apoio ativo de outras seitas, como os adventistas. Seus soldados usavam uma fivela com a inscrição “Gott mit uns” (Deus conosco).

Lenin era (ou se dizia) ateu, mas nunca perseguiu os religiosos, apenas tornou a Rússia um estado laico. Quanto a Stalin, era um louco sanguinário e fez o que se espera de um louco sanguinário no poder. Seu suposto ateísmo foi apenas um detalhe e não a razão para os massacres. Ele nunca disse “eu faço isto porque sou ateu”.

Por outro lado, houve várias ditaduras cristãs ao longo da história. No século XX, a mais recente foi a Argentina, que tinha o apoio entusiástico da Igreja Católica local. Devemos culpar sua crença religiosa pela tortura e morte de tanta gente?

Os regimes que os crentes chamam de ateístas foram apenas ditaduras onde o ateísmo era um detalhe na ideologia que lhes deu origem. Os ideólogos do marxismo rejeitavam as religiões porque tiravam do povo o ânimo de lutar por seus direitos e o tornava conformista. Mas quem disse que Mao e Stalin queriam que o povo lutasse por seus direitos? Seu suposto ateísmo foi apenas mais um modo de evitar que ideologias e instituições externas influenciassem suas mentes e competissem com eles.

6. Nunca vi um macaco virar homem ou um peixe pular para fora da água e passar a viver em terra.

E nem vai ver. A evolução ocorre de uma geração para outra e não num mesmo indivíduo e, em geral, é muito lenta. Grandes mudanças podem levar milhões de anos, embora outras ocorram diante de nossos olhos. A laranja Bahia é o resultado de uma mutação. Cada epidemia de gripe é uma mutação do vírus da epidemia anterior. Os insetos ficam cada vez mais resistentes aos inseticidas.

7. O celacanto não mudou nada durante milhões de anos.

Não exatamente. Há vários tipos de celacanto, o que mostra que ele mudou um pouco. Por outro lado, a evolução não é uma coisa obrigatória. Ela ocorre quando a mudança é necessária para a sobrevivência de uma espécie, mas não foi o caso do celacanto, bem adaptado ao lugar em que vivia.

8. Darwin renegou sua teoria antes de morrer.

Esta é uma mentira que alguns crentes inventaram e os outros repetem sem verificar se é verdade. Por outro lado, sua teoria continuaria válida mesmo que ele a renegasse, assim como a gravidade continuaria existindo mesmo que Newton voltasse atrás.

9. O evolucionismo se baseia em fraudes.

Como em todos os campos da atividade humana, houve fraudes cometidas por pesquisadores. A diferença é tais fraudes foram denunciadas por outros pesquisadores, não por religiosos, mesmo porque os religiosos não tinham conhecimentos para isto. Os criacionistas só ficaram sabendo delas quando já eram notícia velha e só então saíram por aí falando bobagem.

A religião, pelo contrário, protege seus fraudadores. Uma fraude religiosa antiga acaba se tornando “fato”, vira “milagre comprovado”. Quanto mais obscura e antiga for a lenda, mais confiável.

Leia também: Cinco grandes equívocos sobre Evolução, A Evolução está Definitivamente Comprovada? e TalkOrigins

10. O famoso cientista Fulano, que era ateu, aceitou a Jesus.

Pessoas se convertem de uma religião para outra ou se desconvertem o tempo todo, mas os crentes só usam como exemplo os que eram ateus e viraram cristãos. Se eles esperam nos impressionar, por que ignoram quando citamos os cristãos que se desconverteram?

Além disto, cada um é que sabe da sua vida. Não sou obrigado a imitar o “famoso Fulano”, ainda mais se ele não apresentar motivos racionais para seus atos.

11. A maioria da humanidade é cristã e a Bíblia é o livro mais importante do mundo.

Apenas ⅓ da humanidade é cristã (e ainda assim este ⅓ está dividido em dezenas de milhares de seitas conflitantes). Em breve, haverá mais islamitas que cristãos. Isto será um sinal de que o islamismo é que é a verdadeira fé?

A Bíblia só é importante para os ocidentais. O problema é que os crentes, em sua arrogância, acham que sua fé e seu livro “sagrado” são o centro do mundo, admirados e respeitados por todos.

Veja também: Major Religions Ranked by Size

12. A Bíblia diz que blá blá blá…

Não adianta citar a Bíblia para quem não acredita nela assim como não adianta citar os Vedas para um cristão. Os crentes parecem achar que duas ou três citações aleatórias de seu livro de mitologia vão fazer qualquer ateu cair de quatro, maravilhado, ou que servem como argumento para qualquer coisa.

Não se pode usar a Bíblia para provar a Bíblia. É preciso primeiro provar que ela pode ser levada a sério, e isto tem que ser feito usando-se fontes externas.

Leia também: Contradições na Bíblia e Existe Lógica na Fé?

13. É preciso saber interpretar a Bíblia.

Se a Bíblia é a palavra de Deus e se nossa salvação depende de a seguirmos, então ela deveria ser claríssima e não um monte de textos obscuros que é preciso interpretar sabe-se lá segundo que critérios, sobre os quais ninguém se entende. Cada seita decide, conforme sua conveniência, o que deve ser tomado literalmente e o que é no sentido figurado.

Além disto, não deveria ser necessário aprender línguas mortas para poder lê-la no original em caso de dúvida ou estudar culturas antigas para entender o tal de “contexto”.

Se partirmos do princípio de que Deus não tentou nos confundir com enigmas e nem está se divertindo às nossas custas, então só podemos concluir que a Bíblia significa exatamente o que está escrito e que não requer nenhuma interpretação. Seria muita pretensão nossa achar que sabemos o que Deus realmente queria dizer com os textos que inspirou. Se ele quisesse dizer outra coisa, teria dito outra coisa. Vale o escrito, vale a interpretação literal, não o que os crentes queriam que ele tivesse dito.

E Deus tinha o poder de evitar que o texto gerasse tantas interpretações diferentes e distorções, se quisesse, ainda mais sabendo que elas ocorreriam.

14. As profecias que se cumpriram mostram que a Bíblia é confiável.

A Bíblia tem várias profecias que falharam. Muitas delas são tão vagas que podem ser usadas para vários acontecimentos, conforme a conveniência. Algumas das supostas profecias mencionadas pelos evangelistas foram usadas fora de contexto e se referiam a outras coisas. Em alguns casos, nem profecias eram. Também pode-se suspeitar que a “profecia” foi feita depois do fato ocorrido.

Leia também: O Mito do Jesus Histórico

15. As profecias estão se cumprindo, portanto Jesus está voltando.

Jesus disse que voltaria quando alguns dos que o ouviam ainda estivessem vivos, mas todos morreram e ele não voltou.

Há 2 mil anos que cada geração vê sinais de que Jesus está voltando. Cada geração morre e Jesus não volta.

Os crentes citam como sinais de que o retorno é iminente as guerras, as doenças, os terremotos e todos os males que nos atingem, mas, em sua cegueira, não percebem que estas coisas foram uma constante durante toda a história da humanidade.

Pelo contrário, cada vez há menos guerras e nelas morre menos gente, além do que o mundo inteiro protesta contra elas em vez de aceitá-las como coisa normal. A humanidade nunca foi tão saudável e nem viveu tanto, graças à medicina moderna. Nunca a fome atingiu tão poucas pessoas.

Há algo que piorou, sim, e é a superpopulação e a resultante poluição do planeta (como consequência da redução da mortalidade e da maior qualidade de vida), mas isto não estava nas profecias. Por outro lado, se às vezes somos bombardeados com notícias de desgraças, é preciso lembrar que hoje a comunicação é instantãnea. No passado, era possível passar uma vida inteira isolado do mundo numa aldeia sem a mínima noção dos horrores que ocorriam no resto do mundo.

Além disto, hoje somos mais exigentes e não aceitamos muitas coisas que pareciam normais aos nossos avós, como a escravidão e a alta mortalidade infantil.

Leia também: Jesus está a caminho?, Melhoria da Qualidade de Vida e As Profecias para os Últimos Dias Comparadas Com os Fatos Atuais Demonstram seu Cumprimento?

16. A moralidade não é possível sem Deus.

A moral só faz sentido sem Deus. Com um deus para nos vigiar e nos impor regras, prometendo recompensas e ameaçando com castigos, não se pode falar em moral e sim em obediência a regras impostas, a que temos que obedecer mesmo sem entender.

A verdadeira moral é aquela que permite a convivência pacífica e a vida em sociedade. Suas regras fazem sentido.

Será que um religioso sairia por aí roubando, estuprando e matando se descobrisse que Deus não existe? Ou continuaria com sua vida, com seus sonhos e projetos, procurando viver uma vida longa e saudável cercado da estima e do respeito de todos?

A maioria da humanidade é e sempre foi religiosa. Se o mundo sempre foi injusto e violento, de quem é a culpa? Dos ateus, que sempre foram uma minoria, em muitos casos perseguida, é que não é.

Leia também: Moral e Ética sem Religião, Vender a alma a Deus ou ao Diabo? e Por que Jesus?

17. Listas de ateus que morreram loucos e desesperados.

Crentes costumam copiar e colar longas listas de ateus famosos que teriam morrido loucos ou desesperados. Alguns dos citados nem sequer existem, como o tal de “Yaroslav, presidente da Comissão Internacional dos Ateus” (aliás, a tal comissão também não existe). Quanto aos outros:

  • Qual o problema se Goethe morreu dizendo “Mais luz”?
  • Quem garante que todos os citados disseram o que está na lista? Em vários casos, sabemos que não.
  • O que os crentes querem provar com as palavras de gente que morreu louca? Que valor elas têm?
  • Que valor têm as palavras de gente cujo cérebro já está parando de funcionar? Não deveríamos ser julgados pelo que fomos ao longo da vida?
  • Como ficam todos os casos de ateus que morreram tranquilamente? Não contam? E os crentes que morreram loucos ou desesperados?
  • Quem foi que morreu dizendo “Meu pai, por que me abandonastes?”

18. Listas de pessoas que desafiaram a Deus e foram castigadas.

Estas listas só provam que o deus dos cristão é mesquinho e vingativo. Não faz sentido que um deus que é tudo e pode tudo se ofenda com as piadinhas de suas ínfimas e limitadas criaturas. Onde está a justiça em se afogar os milhares de passageiros inocentes do Titanic só para punir uma piada de seu construtor? É esse o tal “deus de infinito amor”?

E, mais uma vez, por que os crentes não levam em conta todos aqueles que blasfemaram e disseram coisas muito piores e, mesmo assim, morreram tranquilamente? Ou os crentes piedosos que tiveram mortes horríveis?

19. O mal existe por causa do homem, que tem livre arbítrio, não de Deus.

Não há livre arbítrio se o criador é onisciente. Se Deus criou o universo já sabendo exatamente de tudo o que aconteceria, ele determinou nosso futuro. Não é possível surpreender a Deus fazendo diferente daquilo que ele já sabia que faríamos antes mesmo de nos criar. Ele tinha infinitas opções, mas escolheu esta, mesmo sabendo das consequências. Ele criou aqueles que iriam para o inferno já sabendo que seriam condenados, portanto foi ele que os mandou para lá.

Não há livre arbítrio se só temos duas opções: obedecer ou sermos castigados. Equivale ao psicopata que diz à namorada “ou fica comigo ou te dou um tiro na cabeça”.

Se eu tenho como impedir que um crime seja cometido e não faço nada, também sou culpado, por omissão. Se eu criei o mundo já sabendo que o crime seria cometido, eu sou totalmente culpado. Foi intencional.

Além disto, a própria Bíblia diz que foi Deus que criou o mal, além de praticá-lo várias vezes.

Leia também: A Falácia do Livre Arbítrio

20. Se os ateus lessem a Bíblia com atenção, entenderiam tudo e aceitariam a Deus.

Os crentes têm dificuldade em compreender que só eles vêem a Bíblia como sendo a tal de “palavra de Deus”. Tudo o que eles lêem no seu livro velho é interpretado para se ajustar a esta idéia preconcebida. Para os ateus e os seguidores das outras religiões, a Bíblia é apenas mais um livro. Um livro entediante, confuso e contraditório, cheio de absurdos e violências cometidas pelo deus que o teria inspirado.

Os crentes deveriam tentar ler a Bíblia assim como eles lêem (se é que lêem…) os livros sagrados das outras crenças: com a mente aberta, não com um respeito reverente que ignora os absurdos e a tudo aceita como verdade revelada.

Veja também: A Bíblia do Cético

21. Você se acha mais inteligente que tantos sábios do passado que acreditavam em Deus?

Pessoas muito mais brilhantes, inteligentes e sábias que eu acreditavam nos deuses gregos e romanos, acreditavam em que a Terra era o centro do universo, defendiam a moralidade da escravidão e a inferioridade das mulheres.

Talvez os sábios estejam me escondendo o argumento devastador a favor da religião que me faria mudar de idéia.

22. Na hora do desespero, ateus procuram por Deus.

Crentes gostam de repetir esta bobagem, mas quantos ateus eles já viram num momento de desespero, se é que eles já viram algum ateu? Que estatística confiável eles têm para apresentar? Gravações de acidentes de avião em geral mostram gritos e palavrões, não orações.

Por outro lado, uma pessoa desesperada não age de forma racional, portanto não se pode citar o que ela diz em momentos assim como prova de que ela, no fundo, acredita em algum deus. Seria o mesmo que julgar uma pessoa pelo que diz quando está bêbada.

Uma pessoa que perdeu a razão é uma pessoa incompleta, é outra pessoa.

Leia também: Existem ateus em aviões caíndo?

23. Ateus rejeitam a Deus, mas vivem falando nele.

Há um bom motivo para eu me preocupar tanto com religião: o proselitismo constante que me cerca e as reações horrorizadas dos que descobrem que eu sou ateu (embora eu não saia por aí anunciando o fato). Ou o fato de que os evangélicos atuam constantemente para mudar as leis em seu favor. E já conseguiram: por exemplo, a vitória da bancada evangélica do Rio de Janeiro, que conseguiu elevar o nível de ruído permitido por lei, já que as igrejas eram campeãs de multa.

E ainda poderia falar da contratação de professores de religião para escolas públicas (mesmo que falte dinheiro para professores de matemática e geografia…) ou do projeto pedindo verbas públicas para a “cura” dos gays.

Lembro também que nossa liberdade de expressão é recente e não podemos permitir que nos seja novamente tirada.

24. Ateus não conseguem provar que Deus não existe.

E nem estão tentando. A maioria dos ateus apenas ignora Deus por não terem evidências de que ele exista. Os poucos que afirmam sua inexistência estão errados. Quem afirma a existência de um deus é que tem que provar o que diz.

25. A Aposta de Pascal.

  • E se o verdadeiro deus for outro e você acabar no inferno de outra religião?
  • E se Deus premiar os ateus sinceros e condenar os religiosos hipócritas, que acreditam por via das dúvidas?
  • De que adianta eu fingir que acredito se Deus saberá que estou mentindo?
  • Como eu faço para acreditar se eu não acredito? Se eu me esforçar bastante, volto a acreditar em Papai Noel?

Leia também: A Aposta de Pascal — Um Desdobramento

26. Ateus também têm fé.

Esta é uma falácia que se baseia na confusão entre dois significados diferentes para a palavra “fé”.

Eu posso ter fé no sentido de “confiança baseada em fatos”. Por exemplo, eu tenho fé em que minha casa não vai desabar nos próximos dias, apesar de não ter certeza. Afinal de contas, ela é bem construída e já está de pé há muito tempo.

Por outro lado, a fé em algo que não se pode ver nem ouvir nem provar que existe tem o sentido de “acreditar por causa da vontade de acreditar”. A fé religiosa é uma crença sem evidências e, às vezes, é uma crença apesar das evidências em contrário.

Para a religião, acreditar sem ver tem até mais valor.

E fica a pergunta: se evidências não são necessárias e basta a fé, o que faz com que uma pessoa tenha fé num deus e rejeite todos os outros? Qual é o critério?

27. Ateus não acreditam em nada.

Ateus acreditam em muitas coisas. Acreditam, por exemplo, em que vão chegar vivos em casa ao final do dia, que o sol vai nascer na manhã seguinte, etc.

Muitos, talvez a maioria, acreditam em que não devem fazer aos outros o que não querem que lhes façam, acreditam que uma vida honesta é melhor que viver fugindo da polícia, acreditam em que é importante conquistar o respeito e a estima dos outros.

Por outro lado, não vêem motivos para acreditar em entidades invisíveis e indetectáveis.

28. Ateus se acham superiores aos outros, acham que sabem de tudo, estão cheios de certezas.

Pelo contrário, são os ateus que reconhecem que são limitados, que vão morrer e virar pó, ao contrário dos crentes, que se acham as criaturas especiais de um deus todo-poderoso que tem um plano para cada um deles e vai levá-los para viver pela eternidade junto dele.

Ateus não estão cheios de certezas e nem acham que sabem de tudo. Pelo contrário, admitem sua ignorância e entendem que o pouco que sabem pode ser desmentido no futuro. São os crentes que têm certeza de que vão para o céu, que o seu deus disse isso e aquilo, que ele é assim e assado, sabem exatamente o que ele espera de nós.

O pior é que os crentes acreditam num livro que eles nem sabem quem escreveu e, na dúvida, acreditam pela fé, sem pedir evidências, ao contrário dos ateus, que desenvolvem hipóteses com base no que podem ver, não no querem que seja a verdade.

Quando um ateu não sabe, ele diz, honestamente, “Não sei”. Quando um crente não sabe, ele diz “Foi Deus”.

29. A ciência não se decide, vive mudando de idéia. Eu acredito em Deus e não tenho dúvidas. ou Os cientistas vivem divergindo entre si, portanto o evolucionismo está errado e eu fico com a certeza da Bíblia.

A ciência evolui justamente porque muda de idéia. Foi assim que aprendemos a fazer fogo, foi assim que surgiu a civilização moderna, foi assim que descobrimos que a Terra não é o centro do universo, foi assim que aprendemos a curar tantas doenças.

Já os crentes se agarram a superstições de tribos primitivas que viveram há milhares de anos e se acham muito inteligentes porque teimam em não mudar de idéia, embora não tenham provas de nada, como se teimosia fosse virtude. E o pior é que cada religião se agarra a uma superstição diferente e se acha a única verdadeira.

Leia também: A “permanência” da Bíblia e a “indecisão” da ciência e A ciência é baseada na fé?

30. Aceite Jesus e você entenderá tudo.

Uma pessoa sensata só aceita uma coisa depois de comprovar que ela é verdade, e não o contrário.

Se for para aceitar e só então tentar entender, todas as religiões se equivalem. Por que aceitar uma e rejeitar as outras?

O mais grave é que, após aceitar sem entender, as pessoas continuam não entendendo e nem por isso abandonam a fé.

Leia também: Aceitar a Jesus?

31. O fato de se usarem datas com “depois de Cristo” é uma prova de que ele existiu.

O calendário ocidental, baseado na suposta data de nascimento de Cristo, só foi definido no Século V, quando a Igreja de Roma conseguiu o poder para impor suas decisões ao mundo pela força das armas. Só então o papa da época, João I, mandou que o monge Dionísio Exiguus calculasse a data exata para o início da nova contagem. Até então, a referência era a data de fundação de Roma.

Mesmo assim, devido às contradições dos evangelhos, o ano zero foi uma escolha arbitrária e imprecisa, até hoje sujeita a discussões.

A civilização ocidental se tornou poderosa e seus padrões foram aos poucos sendo adotados pelo mundo, como o alfabeto latino e, sucessivamente, o latim, o francês e, atualmente, o inglês. É útil ter padrões. É por isto que todo mundo tenta aprender inglês.

Isto não impede que os países continuem usando suas línguas e não impede que haja vários calendários diferentes: chinês, judaico, árabe, hindu etc.

O uso da suposta data de nascimento de Cristo não prova que ele existiu. É apenas uma convenção que todos adotaram por conveniência.

Por outro lado, é interessante notar que os nomes dos dias da semana, na maioria das línguas européias, ainda se baseiam em nomes dos antigos deuses (dia do Sol, dia de Thor, dia de Vênus, dia de Marte etc.).

32. Se fosse mentira, já teria sido desmentida depois de tanto tempo.

Se todas as outras religiões (e são milhares…) fossem mentira, já deveriam ter sido desmentidas depois de tanto tempo. Há religiões bem mais antigas que o cristianismo.

33. Já está mais que provado que Jesus existiu.

Os crentes apresentam uma lista de historiadores que mencionaram Jesus como prova de que ele existiu. Na verdade, nenhum deles viveu na época dos supostos fatos. Tudo o que eles relatam é de ouvir falar, às vezes 100 anos depois. E o que eles dizem é que havia um grupo de pessoas que se denominavam “cristãos” e acreditavam num tal de Jesus. Isto prova a existência de cristãos já naquela época, mas não a existência histórica de Jesus.

Outros afirmam que o túmulo vazio é prova da ressurreição, sem perceber que qualquer um pode cavar um buraco e dizer que lá havia estado um deus ou qualquer outra coisa. Sem perceber que nem sabemos se Jesus chegou a ser enterrado naquele túmulo ou, se foi enterrado, talvez tenha sido removido antes de chegarem os soldados romanos. Sem se dar conta de que nem sabemos se o tal túmulo existiu mesmo. Tudo o que temos é um lugar que, séculos depois, os cristão decidiram que era o túmulo mencionado nos evangelhos.

Talvez tenha havido um homem que deu origem ao mito que os evangelhos relatam, mas não há rigorosamente nenhuma prova de que ele tenha nascido de uma virgem, feito milagres, ressuscitado e voado para o céu.

Quem quiser que acredite pela fé, mas não apele para alegações do tipo “muitos historiadores sérios confirmam que Jesus existiu”. Não é verdade. Historiadores sérios não deixam que sua fé religiosa influencie seu trabalho profissional.

Leia também: Jesus: O incômodo silêncio da História e O Mito do Jesus Histórico

34. Os arqueólogos descobriram que Pilatos existiu, portanto a Bíblia está confirmada como verdadeira.

Se o fato de Pilatos ter existido provasse que Jesus existiu, então a existência da cidade de Nova Iorque e do edifício Empire State provaria que o King Kong existiu.

35. Eu sei que Deus existe porque ele fala comigo.

Fiéis de todas as religiões dizem a mesma coisa sobre deuses diferentes. Não é possível que estejam todos certos ao mesmo tempo.

Além disto, experiências “místicas” não servem como prova de nada. São pessoais e intransferíveis, sem falar em que a própria pessoa deveria ter a honestidade de admitir que talvez quem esteja falando com ela é um outro deus ou que tudo pode não passar de alucinação ou auto-ilusão.

Leia também: Religião é problema Mental?

36. Jesus cura! É só ter fé!

Os crentes têm fé em que foram curados pela fé.

O pior é que vão ao médico, se tratam no hospital, fazem terapia, tomam remédios e, no fim, o mérito é todo de Deus e não dos médicos ou da ciência. Eles saem dizendo que “foi Deus que curou”, como se os médicos não tivessem feito nada.

E fingem que não viram os que oraram muito e morreram das doenças. Ou os que não oraram e se curaram assim mesmo.

Por que Deus não faz crescer de volta um braço, uma perna ou um olho? Por que só há curas que podem ser explicadas de outras formas? Por que os crentes nunca desconfiam de fraudes?

Há milhares de igrejas evangélicas, por toda a parte, curando deficientes aos montes como se fossem linhas de produção. Por que, então, não diminui o número de cadeirantes, por exemplo?

O mais cruel é que, quando a pessoa não se cura, é acusada de não ter fé e ainda leva a culpa por estar doente.

Ler também: Curas Espirituais e Oremos

37. Deus é amor. Se todos seguissem o que a Bíblia diz, o mundo seria melhor.

O deus da Bíblia é um monstro ciumento, mesquinho e cruel, que mata povos inteiros por motivos fúteis. E Jesus, o manso e humilde, piorou as coisas: antes, o sofrimento terminava com a morte. Depois de Jesus, o sofrimento passou a ser eterno.

Como já disse alguém: “Quem seguisse o Antigo Testamento fielmente seria preso. Quem seguisse o Novo Testamento fielmente seria internado”.

Leia também: Atrocidades cometidas em nome de Deus e Atrocidades bíblicas “explicadas” pelos crentes

38. Não nos cabe questionar a vontade de Deus. Devemos aceitar mesmo sem entender.

Esta alegação parte do princípio de que Deus é bom e justo e que tudo o que ele faz nos beneficia, mesmo que seus atos estejam além de nossa compreensão, mas a verdade é que, se não sabemos por que Deus faz as coisas, não temos como saber se são boas.

Quando a coisa nos agrada, dizemos que Deus é muito bom para nós. Quando não nos agrada, dizemos que Deus sabe o que é melhor para nós.

No fim das contas, a ação de Deus não se diferencia em nada da ação do acaso.

Leia também: Vender a alma a Deus ou ao Diabo?

39. As 5 provas de Tomás de Aquino.

Neste caso, não é uma questão de se refutarem as 5 provas e sim de mostrar que elas não provam nada sobre a existência de Deus.

Fazem sentido, até certo ponto, mas hipóteses só se tornam aceitas depois que são confirmadas por fatos – e ainda faltam os fatos: onde está Deus?

E, claro, permanece o velho problema: quem criou Deus? Por que abrir uma exceção para ele?
Só porque é preciso para que o argumento faça sentido?

Enquanto não aparecer um deus que, além de existir, prove que sempre existiu, o mais sensato é considerar que o universo sempre existiu. Ou apenas admitir que não há uma explicação satisfatória para a existência do universo e encerrar o assunto.

O erro dos crentes é assumir que Deus existe e só então procurar por provas.

40. Eu era ateu, mas minha mãe se curou por milagre e eu me converti.

Em primeiro lugar: foi mesmo um milagre? Ou apenas uma coisa que você decidiu que era milagre sem procurar saber se havia alguma explicação? Além disto, milagre é apenas algo que ainda não conseguimos explicar. Você pode provar que a ciência nunca conseguirá explicar?

Em segundo lugar, por que só alguns ateus se impressionam com esses “milagres” e se convertem? Será que eles eram ateus por motivos racionais ou eram apenas pessoas indecisas procurando por um pretexto para admitir a fé em Deus?

Em terceiro lugar, se o fato de que uma pessoa quase morrendo se curou é prova de que Deus existe, então talvez o fato de uma pessoa saudável morrer de repente seja prova de que Deus não existe.

41. Se você não tem certeza, pergunte a um teólogo antes de dizer besteiras sobre assuntos que desconhece

Cada teólogo diz uma coisa. Uns dizem que o inferno existe, outros que não. Uns dizem que a salvação é só pela fé, outros que as obras são necessárias. Uns dizem que é Deus que escolhe quem será salvo e que nada importa o que fizermos, outros dizem que temos livre arbítrio. Uns dizem que Jesus é igual ao Pai, outros dizem que ele é inferior.

Uns dizem que a Bíblia é a Palavra de Deus, imutável e inerrante da primeira à última palavra, outros dizem que Jesus trouxe uma nova doutrina e que o Antigo Testamento já não é mais importante.Durma-se com um barulho destes …E por que temos que consultar teólogos cristãos? Por que não islamitas, que dizem que Jesus não morreu na cruz? E que ele não é filho de Deus? Eles também estudaram muito e devem saber do que estão falando.

Por: Fernando Silva

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Muito se fala hoje na falta de educação e consciência das pessoas que, desrespeitando as leis e o bom senso, usam vagas de estacionamento destinadas a deficientes, e é ótimo que o assunto fique em evidência mesmo.

Infelizmente mesmo com legislação e demarcação de vagas ainda há os engraçadinhos que acham que não tem ninguém olhando e eles vão ‘rapidinho’ e voltam. Há ainda os caras-de-pau que ocupam a vaga mesmo com todo mundo olhand0, e que se dane o resto. Vaga de idos então é uma PIADA. Mas enfim, é preciso que ao menos passem vergonha por isso.

Já os assentos destinados a deficientes em ônibus e metrô são outra coisa. Há os caras de pau que fingem dormir durante a viagem para ‘não ver’ um idoso, deficiente ou gestante entrando no vagão/ônibus. Shame on you! Nada de mais usar os assentos destinados a esse público SE não houver alguém necessitado presente, mas vamos combinar uma coisa? Por qual razão você sentaria no banco reservado tendo outros bancos disponíveis? Só pra ter que levantar depois? Não né, você não sentaria.

Agora o modo como os banheiros adaptados destinados a deficientes físicos são encarados é de matar.

Quem olha de fora acha que ‘deficientes’ precisam daquele banheiro para que suas cadeiras de roda caibam nele. E precisam de pia mais baixa porque não se levantam, e só.

Portanto, deixa eu te explicar uma coisa: TUDO naquele banheiro foi projetado para necessidades específicas que vão ALÉM daquilo que você vê.

Se você convive com um portador de necessidades especiais, talvez saiba. Se não convive, vou explicar.

Deficientes em cadeiras de roda muitas vezes precisam esvaziar suas bolsas de colostomia ou suas sondas vesicais. Para isso precisam, além do espaço, da pia e de tudo o que está estrategicamente posicionado.

Há ainda os deficientes que não tem deficiências visíveis aos seus olhos mas que são portadores de necessidades especiais, muitas vezes as mesmas que as do indivíduos com cadeiras de roda. Só como exemplo, uma pessoa pode ser portadora de neobexiga ortotópica e precisar não só do espaço como da pia do banheiro de deficientes. E ah, antes que me esqueça, a lei entende esses cidadãos como deficientes físicos. Há ainda os que são ‘só’ ostomizados e, por fim, os que tem colostomia e neobexiga.

Este é o meu caso.Não é uma questão de gosto. Não é que a gente gosta de banheiro espaçoso, com pia e espelho pra poder retocar o batom. Também não é porque não deveria ter fila pra usar ou mais ainda, porque somos especiais.

Imagine-se tendo que introduzir uma sonda no umbigo pra poder drenar urina da sua nova bexiga (que se você não drenar vai voltar para seus rins, te matando de dor). Pra fazer isso você tem que lavar bem as mãos – afinal você não quer ganhar uma infecção por ter mandado bactérias pra dentro do corpo por mãos sujas, né? – não antes de deixar o lubrificante à mão para passar na sonda. Faz uma meleca, te garanto. O procedimento não é nada de mais, e com o tempo você o faz com a mesma naturalidade que fazia antes, quando não precisava de sonda e era normalzinho. A grande diferença é que dessa forma você não sente ‘vontade’ de ir ao banheiro: ou você vai porque deu a hora ou, com sorte, toma um banho de xixi que saiu pelo umbigo já que a bexiga chegou ao limite.

Agora imagine fazer isso num banheiro comum, apertado, sem pia.

Ficou ruim?

Fica pior.

Imaginar agora fazer isso num banheiro comum porque UM ENGRAÇADINHO SEM PROBLEMA ALGUM não quis ficar na fila aguardando um banheiro comum vago ou porque UMA DONDOCA PRECISAVA TIRAR A MAQUIAGEM NA PIA do banheiro adaptado para deficientes. Ah, tão legal ter uma pia só pra mim!

Chato, né?

Portanto não tem essa de ‘uso esse banheiro só se não tiver ninguém precisando’ porque quem precisa pode chegar a QUALQUER momento precisando trocar sua bolsa de colostomia, esvaziá la, fazer seu xixi pela sonda e tantas outras coisas.

Tá apertado? Procura outro, espera, ou corre antes mas NÃO, O BANHEIRO DE DEFICIENTES NÃO É SEU NEM PRA USAR RAPIDINHO. Ele não tá alí de enfeite, e sim porque há pessoas que precisam dele de uma maneira que você não pode imaginar.

Questão de educação, de cidadania e de bom senso.

Boa semana.

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Quem diria…

Eu sempre digo que ninguém deveria ter que escolher qual profissão seguir aos 17 anos. Eu escolhi e isso foi pautado mais no coração do que na razão.

Eu escolhi ser historiadora aos 17 anos.

Não sei como foi com outras pessoas, mas os 4 anos de faculdade fizeram um belo ‘estrago’ na minha cabeça. E foi assim porque eu era jovem demais pra compreender muitas coisas, especialmente para exercer a imparcialidade.

Um exemplo: nunca tinha me posto a estudar a História dos EUA além do básico necessário pra compreender sua inserção no mundo.  Isso também aconteceu com a colonização do Brasil, mas num grau menor, penso.

Meu forte sempre foi História Antiga e Medieval. Era – e é! – o que me chama ao coração, aquilo que berra em mim. Mas se há algo que aprendi na vida foi a sair da zona de conforto por puro exercício.

Há bem pouco tempo, em 2006,  num desses momentos em que o improvável e despretensioso acontece mas muda todo um curso, um anestesista me falou do livro 1862, de Robert Conroy. Que espécie de pessoa entra num pré-cirurgico lendo O Imperador, de Conn Igulden? A mesma espécie que vai passar por uma cirurgia de vida ou morte que durará 10 horas e precisa terminar de ler o livro. Já pensou se morresse antes do fim do livro? Um desperdicio. Foi com essa frase que começou a conversa com o anestesista, e ele mal sabe mas mudou totalmente o meu modo de enxergar aquilo contra o que tinha o maior preconceito e, numa busca que se tornaria constante, me colocaria numa posição de conhecer, compreender e  discernir o que gostava e o que não gostava.

Foi assim que os Estados Unidos da América nasceu para mim.

Claro que o 1862 foi só um ponto de partida, mesmo porque ele é uma obra de ficção-histórica. Acho interessante o modo como esse tipo de obra funciona muito bem no sentido de direcionar, mas é preciso ter o discernimento de guardar suas proporções. E de que forma fazemos isso? Bebendo na fonte. Foi o que fiz.

(Só um adendo de exemplo: depois de Christian Jacq, conheci um montão de pseudo-egiptólogos-christianjacquianos. Uma temeridade. Não sei se isso se dá à necessidade que as pessoas tem em localizar o princípio difíicil, o meio apoteótico e o final cansado que todo bom conto tem ou se é mesmo fruto da preguiça imensa em buscar por si as conexões e entender que todo mundo fede, todo mundo faz besteira, todo mundo é podre – até mesmo o maior dos faraós. Portanto, OK ler ficção histórica MAS por gentileza uma boa dose de realidade cai bem).

Por pura sorte, tenho um marido que é o cara que me lembra diariamente que devo beber na fonte. E assim fizemos, juntos. Foram muitos livros, documentários e até mesmo uma viagem na qual passamos pela Philadelphia (tudo bem, para o show do PJ, mas não deu pra não babar na cidade e pensar que o nascimento de uma nação inteira deu-se ali) e pudemos tocar um pouco da História com as mãos.

Deu para entender claramente por que nomes como John Adams, George Washington e Benjamin Franklin fazem qualquer norte-americano se inflar de orgulho. E dá para entender o quão ridículo e simplista é o conceito de que somos a nação que somos porque fomos colonizados para exploração, enquanto os EUA foram colonizados para povoamento. Sabem o que é pior? Isso era (não sei hoje) dito à exaustão na faculdade.

Eu obviamente – dada a minha necessidade de ter um ‘alvo’ rs – precisava achar um alguém com quem me identificasse enormemente. Não foi difícil: esse alguém foi Abraham Lincoln.


Eu gosto da figura. Gosto da postura, e gosto do que ele fez. Eu gosto de homens que viveram anos luz à frente de seu tempo, mas gosto especialmente daqueles que aplicaram em suas próprias vidas o que preconizavam ou exigiam dos outros.

Em 1862 o Brasil estava colonizado havia 362 anos. Nesse ano, tínhamos Dom Pedro II no poder. Em 1776 os EUA já eram um país independente e em 1862 viviam uma guerra civil medonha mas tinham à frente Lincoln.

Uma ‘leve’ diferença rs

Não posso imaginar um homem que em 1862 recusava-se a caçar ou pescar por não concordar com o sofrimento de animais. Que nunca teve as mãos cheias de calos, mas que produziu como poucos. Que recusava-se a ter uma religião (o que não significa que era ateu, óbvio), um cético e livre pensador com enorme conhecimento bíblico. Que foi capaz de costurar, de negociar, sem vender-se ao diabo a qualquer custo, como vemos o lixo do nosso governo Petralha fazendo por aqui (150 aos depois!).

Um abolicionista. O maior e mais efetivo desses. Ao movimento separatista respondeu com força e firmeza, mantendo a União.

Tinha lá seus defeitos e peculiaridades, como – ainda bem! – todos tem.

Mas o conjunto… Ah, desse eu gosto demais.

Tati.

How many legs does a dog have if you call the tail a leg? Four.
Calling a tail a leg doesn’t make it a leg.

Abraham Lincoln

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