Muito se fala hoje na falta de educação e consciência das pessoas que, desrespeitando as leis e o bom senso, usam vagas de estacionamento destinadas a deficientes, e é ótimo que o assunto fique em evidência mesmo.
Infelizmente mesmo com legislação e demarcação de vagas ainda há os engraçadinhos que acham que não tem ninguém olhando e eles vão ‘rapidinho’ e voltam. Há ainda os caras-de-pau que ocupam a vaga mesmo com todo mundo olhand0, e que se dane o resto. Vaga de idos então é uma PIADA. Mas enfim, é preciso que ao menos passem vergonha por isso.
Já os assentos destinados a deficientes em ônibus e metrô são outra coisa. Há os caras de pau que fingem dormir durante a viagem para ‘não ver’ um idoso, deficiente ou gestante entrando no vagão/ônibus. Shame on you! Nada de mais usar os assentos destinados a esse público SE não houver alguém necessitado presente, mas vamos combinar uma coisa? Por qual razão você sentaria no banco reservado tendo outros bancos disponíveis? Só pra ter que levantar depois? Não né, você não sentaria.
Agora o modo como os banheiros adaptados destinados a deficientes físicos são encarados é de matar.
Quem olha de fora acha que ‘deficientes’ precisam daquele banheiro para que suas cadeiras de roda caibam nele. E precisam de pia mais baixa porque não se levantam, e só.
Portanto, deixa eu te explicar uma coisa: TUDO naquele banheiro foi projetado para necessidades específicas que vão ALÉM daquilo que você vê.
Se você convive com um portador de necessidades especiais, talvez saiba. Se não convive, vou explicar.
Deficientes em cadeiras de roda muitas vezes precisam esvaziar suas bolsas de colostomia ou suas sondas vesicais. Para isso precisam, além do espaço, da pia e de tudo o que está estrategicamente posicionado.
Há ainda os deficientes que não tem deficiências visíveis aos seus olhos mas que são portadores de necessidades especiais, muitas vezes as mesmas que as do indivíduos com cadeiras de roda. Só como exemplo, uma pessoa pode ser portadora de neobexiga ortotópica e precisar não só do espaço como da pia do banheiro de deficientes. E ah, antes que me esqueça, a lei entende esses cidadãos como deficientes físicos. Há ainda os que são ‘só’ ostomizados e, por fim, os que tem colostomia e neobexiga.
Este é o meu caso.Não é uma questão de gosto. Não é que a gente gosta de banheiro espaçoso, com pia e espelho pra poder retocar o batom. Também não é porque não deveria ter fila pra usar ou mais ainda, porque somos especiais.
Imagine-se tendo que introduzir uma sonda no umbigo pra poder drenar urina da sua nova bexiga (que se você não drenar vai voltar para seus rins, te matando de dor). Pra fazer isso você tem que lavar bem as mãos – afinal você não quer ganhar uma infecção por ter mandado bactérias pra dentro do corpo por mãos sujas, né? – não antes de deixar o lubrificante à mão para passar na sonda. Faz uma meleca, te garanto. O procedimento não é nada de mais, e com o tempo você o faz com a mesma naturalidade que fazia antes, quando não precisava de sonda e era normalzinho. A grande diferença é que dessa forma você não sente ‘vontade’ de ir ao banheiro: ou você vai porque deu a hora ou, com sorte, toma um banho de xixi que saiu pelo umbigo já que a bexiga chegou ao limite.
Agora imagine fazer isso num banheiro comum, apertado, sem pia.
Ficou ruim?
Fica pior.
Imaginar agora fazer isso num banheiro comum porque UM ENGRAÇADINHO SEM PROBLEMA ALGUM não quis ficar na fila aguardando um banheiro comum vago ou porque UMA DONDOCA PRECISAVA TIRAR A MAQUIAGEM NA PIA do banheiro adaptado para deficientes. Ah, tão legal ter uma pia só pra mim!
Chato, né?
Portanto não tem essa de ‘uso esse banheiro só se não tiver ninguém precisando’ porque quem precisa pode chegar a QUALQUER momento precisando trocar sua bolsa de colostomia, esvaziá la, fazer seu xixi pela sonda e tantas outras coisas.
Tá apertado? Procura outro, espera, ou corre antes mas NÃO, O BANHEIRO DE DEFICIENTES NÃO É SEU NEM PRA USAR RAPIDINHO. Ele não tá alí de enfeite, e sim porque há pessoas que precisam dele de uma maneira que você não pode imaginar.
Questão de educação, de cidadania e de bom senso.
Boa semana.
Tatis,
Essa é uma luta que ainda vai demorar, né?
Confesso que eu mesma, que sempre respeitei tudo e todos, só de uns anos para cá entendi que banheiro de deficiente não é só prá quem usa cadeira de rodas… juro que pensava que eu e as outras pessoas não deveríamos usar só prá ele ficar “limpinho” para o deficiente que tivesse que botar a bunda lá!
E o phoda é que pessoas na sua condição ainda por cima passam por um duplo problema: um com as pessoas que não respeitam nada, pelos motivos que você já descreveu; e outro com as pessoas que respeitam o banheiro e olham torto quando você passa toda serelepe “furando a fila”, né? Aí ou você ignora os olhares tortos, ou tem que provar que tem direito a usar o banheiro, e não é prá tirar a maquiagem… pqp, né?
Minha mãe tem 76 anos, é meio surda, tem uma labirintite eternamente atacada, uma artrose avançadíssima no joelho direito e linfedema nas duas pernas. Lógico que vai rarissimamente ao shopping ou ao mercado, uma ou duas vezes por ano, só quando precisa trocar algum presente ou quer escolher algo específico. Tecnicamente não temos direito à vaga de idosos, já que sou eu que dirijo, e não ela, mas me fala, como vou largar minha mãe em pé, na entrada do lugar, esperando até eu conseguir uma vaga e voltar para encontrá-la, sendo que ela se perde até dentro de loja pequena? Daí quando estou com ela e não tem outro jeito, paro na vaga de idosos, mas me sinto super culpada e preciso ficar justificando para mim mesma que não estou tão errada assim. Aí volto e vejo TODAS as vagas de idosos devidamente preenchidas por gente jovem e saudável e, além de culpada, me sinto uma idiota…
Beijo!